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Liberdade feita com os pés descalços

  • Foto do escritor: Leonardo da Cruz
    Leonardo da Cruz
  • 26 de nov. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 11 de dez. de 2024




A dança é o que faz Dalila se sentir viva. Além do seu trabalho e lazer, é a forma que encontra equilíbrio emocional no dia a dia. A expressão livre pelos movimentos do corpo tem significado para ela desde os quatro anos, quando começou a dançar na cidade em que nasceu, Guantánamo – localizada no “rabo do jacaré” do mapa cubano.


Localização de Guantánamo no mapa cubano
Localização de Guantánamo no mapa cubano

A mãe viu potencial nela ainda muito pequena e, aos dez anos, foi aprovada em uma escola de dança profissional. Depois de anos tentando ser reconhecida, decidiu ir para Havana. Aos 17, Dalila entrou na Escola Nacional de Dança, onde se especializou em dança moderna e também aprendeu técnicas de folclore cubano e estilos afro-latinos, como a salsa. Na capital de Cuba, ela rompeu a “casca do ovo” e conseguiu uma oportunidade para uma companhia de dança. “Eu trabalhei muito, era esforçada. As pessoas usam a expressão ‘ovo’, quando uma pessoa ainda é muito iniciante. Diziam: ‘Essa menina chegou aqui um ovo e hoje está em todas as coreografias e espetáculos’”. A ilha, porém, ficou pequena para Dalila. Aos 20 anos, o mar do litoral paranaense se tornou sua nova casa.


Ela veio ao Brasil para morar em Guaratuba com a família do namorado da época, que se relacionava desde os 15 anos. A mãe do garoto era uma médica cubana do Programa Mais Médicos, fundado em 2013 durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. “Essa era a oportunidade que eu tinha para sair do país. Ele [namorado] havia vindo um ano antes de mim. Em Cuba, a gente se sente em uma gaiola e, quando a porta é aberta, você só vai, não olha para onde e nem como”, diz a dançarina. Os primeiros meses foram bem difíceis para ela, principalmente pela falta de oportunidade em sua área de trabalho. Em 2023, veio para Curitiba e a nova cidade também a amedrontou. O antigo namoro se encerrou e, apenas com o seu cachorro, Alvin – também cubano –, precisou criar novos laços. Sem nenhum apoio e mergulhada em uma depressão, Dalila encontrou refúgio no ritmo e no calor latino. Ao som do reggaeton conheceu “seu anjo da guarda”, a Letícia, brasileira, descendente boliviana e dançarina profissional, que se tornou sua melhor amiga na fria capital paranaense. “Frequento festas latinas aqui, como a ‘Noite Caliente’, que me faz sentir como se eu tivesse em Cuba por um momento”, diz ela.


Dalila na noite dançante latina em Curitiba


A vida profissional é uma fronteira ainda mais difícil para se cruzar sendo uma artista imigrante. Há poucos espaços para que ela atue em apresentações como dançarina no país: “A cidade não me dá oportunidades para exibir meu trabalho ou crescer. Tenho encontrado poucas chances para dançar profissionalmente”. Dalila já fez audição em companhias de Curitiba de dança contemporânea, porém não conseguiu oportunidades. “Eles dizem que procuram bailarinos versáteis, que façam ponta, mas eu não danço esse estilo, não é uma opção viável pra mim”. A única área que conseguiu acessar foi dando aulas de balé e de ritmo e movimento para crianças de dois a doze anos em colégios. Sua trajetória como professora começou em um estúdio de dança, que primeiro estendeu a mão para instruí-la. “Ensinar e dançar são coisas completamente diferentes”, explica. Dalila diz que está “focada em sobreviver” porque ainda não há portas abertas para viver como dançarina aqui. Ela também vêm encontrando barreiras para acessar o sistema de saúde e tratar uma bursite que tem no ombro, o que a limita fisicamente. “Ainda estou em um longo processo de encontrar meu equilíbrio profissional e pessoal no Brasil”. 



Dalila em apresentações de dança.


A bailarina Martha Graham é uma inspiração para Dalila. A revolucionária da dança moderna criou uma nova linguagem do movimento e se tornou resistência contra o racismo, machismo e ataques contra minorias, como imigrantes, nos Estados Unidos durante o ápice da Segunda Guerra Mundial. É nessa energia de liberdade feita com os pés descalços que a dançarina de 21 anos se entusiasma, tanto para dançar quanto para sonhar. “Eu desejo que a arte imigrante tenha mais reconhecimento. Eu amo ser dançarina e sinto que poderia contribuir muito para a cultura local se tivesse mais chances”, fala. “Em Cuba, eu dançava todos os dias. É algo que preciso fazer para me sentir viva!





Dalila em performando em fotos e como professora de dança.


Dalila e Guillermo


Dalila como modelo.


Dalila performando.


Dalila em Cruzando Versos




 
 
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